quinta-feira, julho 21

14º Capítulo

Aproximou-se de mim e só me disse que sim. Encolheu os ombros e afastou-se num passo irritantemente vagaroso. Boa, tanto tempo a esconder os meus sentimentos e tudo aquilo para que tinha trabalhado nos últimos anos estava a desmoronar-se à minha frente. Tinha perdido uma filha, a outra estava a ir pelo mesmo caminho e o pai delas, a pessoa que eu mais queria ter ao meu lado naquele momento, tinha acabado de me rejeitar. Sentei-me na cadeira onde tinha dormido e tirei uma fotografia que tinha lá. Tinha 4 anos e dois meses, mas eu lembrava-me daquele dia como se tivesse acontecido ontem. Naquela altura faltavam 8 meses para a minha vida mudar mais ainda. Pôr-do-sol do terceiro dia no Havai. Eu e os gémeos na praia. O Bill a agarrar-me para me deixar cair da palmeira e o Tom com os braços esticados lá em baixo para me receber. Sorri feita parva para aquela fotografia que retratava um puro e perfeito momento de felicidade.

-Sra. Carter? - ouvi a voz rouca do adorável pediatra.
Era um senhor amoroso com cerca de 50 anos. A pele muito morena, o corpo atlético e bem tratado, o cabelo escuro a chegar ao meio das costas, um sentido de humor fenomenal e sobretudo o charme e a maneira como tratava as pessoas. Ele sabia mesmo como lidar com toda a gente: era amável com as crianças, muito brincalhão com os senhores e muito respeitador e charmoso com as senhoras. Era o tipo de homem que todas queriam mas ninguém tinha.

-Diga doutor.

-Peço imensa desculpa, mas achei que a devia informar que deixaram uns bebés recém-nascidos na recepção.

-Pobres crianças! Mas porque me vem dizer isso a mim?

-Eles foram cá deixados a semana passada. Tinham um bilhete com uma coisa estranha, e eu fiz-lhes alguns exames para ver se estava certo. E é verdade, não sei como. Eu conheço-a desde que estava grávida da Hayley. Acompanhei a sua vida, com todas as pessoas que fazem parte dela, por isso o meu lado racional diz que não pode ser verdade. Mas os testes confirmaram.

-Confirmaram o quê? Doutor, o que me está a querer dizer?

Nesse momento chegaram Bill, Tom, Avery e Carly. O Tom vinha de mão dada com a namorada, e o Bill a rodear a cintura da Carly com um braço enquanto a lambisgóia segurava um ramo de flores.

-Sr. Kaulitz ainda bem que chegou! O senhor e a sua mulher são pais de dois saudáveis meninos. Parabéns.

Vi a cara de Tom ficar enfurecida, Carly envergonhada e Avery confusa. Nenhuma reacção por parte do Bill.

-Senhores, se quiserem têm 15 minutos para ver a Hayley. Recebi agora mesmo a informação de que a vão por em coma induzido para evitar que sofra dores e danos cerebrais. - informou afastando-se para a zona onde a minha filha estava.

-Espere eu vou consigo. Não gosto de estragar momentos de família.

Peço desculpa por demorar tanto.
Deu-me a macaca, depois o  blogger não abria... Depois veio a foto do menino Bill!
Tive a apreciar, e nem desgosto dele assim. Mas se há uma coisa que eu nunca, mas mesmo NUNCA vou aceitar é aquela barbicha.
Passem bem!  :)

segunda-feira, junho 27

13º Capítulo


 A Hayley estava furiosa connosco por não a deixarmos sair de casa, mas não tínhamos outra escolha. A apenas três dias do transplante de medula ela não podia adoecer. Tinham passado mais de sete meses desde a morte da Brielle. O tempo passou muito devagar. Já quase não pensávamos na bebé, mas a ansiedade por causa do transplante da Hayley era muito grande. Só podíamos estar com ela e explicar-lhe o que ia acontecer, porque nessa mesma noite teríamos de ir para o hospital para todas as preparações necessárias. Ela adormeceu e eu aproveitei o momento para preparar as malas com tudo o que seria necessário para o tempo que estaríamos lá. As horas passaram e Bill veio buscar-nos. A presença dele era muito importante neste momento, tanto para mim como para a nossa filha. Acomodámo-nos no quarto que nos era destinado e ficamos a conversar com os médicos. A noite passou, e na manhã do dia seguinte vieram dizer-nos que iam fazer o transplante mais cedo porque não havia razão para esperar. Começou então a corrida deles. Eu fiquei simplesmente sentada na sala de espera enquanto o tempo passava. O Bill andava de um lado para o outro, a beber cafés atrás de cafés e nada nem ninguém o conseguia parar. Finalmente ela foi transferida para os cuidados intensivos, onde iria passar um ou dois dias para ver se o seu corpinho não rejeitava a medula da irmã. Isso significava que não ia poder vê-la. Deitei-me de costas nas cadeiras de plástico duro numa tentativa de descansar, mas o Bill veio ter comigo.

-Dixie, desculpa, eu não sabia que ia ser assim. Vamos começar a digressão dentro de quatro dias. Ela está bem, quer que eu vá, e se cancelasse tinha de contar que sou o pai dela. Mas eu não quero deixar-vos. - pensou alto enquanto encostava os cabelos negros na minha barriga.

-Não tem mal, eu e a minha família ficamos com ela. De qualquer maneira tens de fazer a tua vida, não é um erro de uma noite que vai acabar com quem tu és. - afirmei, pensando que para mim nunca tinha sido um erro.

Adormeci e só acordei passado umas horas, com o Bill lavado em lágrimas ao meu lado.

-Dixie ela não está nada bem. Está a rejeitar, o corpo dela pode não aguentar. E mesmo assim não nos deixam vê-la.

-Eu sei que é muito difícil Bill, mas temos de ser fortes.

-Deixa-me acabar! - gritou enfurecido, causando uma reacção de medo instantânea em mim. - Desculpa…eu…eu não te quero perder também. E deixa-me falar! Eu andei a esconder-te isto há muito tempo. Quando nos conhecemos no Havai eu comecei a sentir uma coisa por ti. Tu eras tão querida comigo…E depois aconteceu aquilo e eu... Dixie, eu…

Nem dei tempo de acabar. Ou muito me enganava ou ele estava a tentar dizer-me que também me amava, e não podia deixar esta oportunidade escapar assim. Levantei-me de repente e colei os meus lábios aos dele. Pude apreciar aquele toque durante alguns segundos, antes de ele me afastar.

-Desculpa, levei-te a pensar coisas erradas. Não era isso que eu queria dizer Addison. - boa, agora passei a Addison. -Eu queria dizer que já tinha alguém quando nos conhecemos. A Carly.

-Ca…Carly? Carly Safrom? - o pânico instalou-se nos meus olhos. Fiz figura de otária.
 Parece que isto por estes lados anda um pouco morto.  
Eu sei que também tenho culpa, mas vou tentar começar a postra mais frequentemente.
Este é de quem ainda tiver paciência para continuar a ler...

segunda-feira, junho 6

12º Capítulo


-Podemos vê-la? Gostávamos de a apresentar à bebé. - disse o Bill a conter as lágrimas.

-Sr. Kaulitz, quem faleceu foi a bebé. Nasceu saudável, mas aconteceu algo e não a conseguimos reanimar.

Não sei bem porquê, mas senti um alívio imenso. A minha filha tinha acabado de morrer sem eu a conhecer, mas eu não senti tanta dor como quando imaginei que tinha perdido a Hayley. Claro que estava muito triste era minha filha. Olhei de relance para o Bill e ele pareceu ler-me o pensamento.

-Eu sei Dixie, sentes-te aliviada por não ser a Hayley. Eu sinto o mesmo. Doutor, afinal acho que não queremos vê-la. É melhor para não sofrermos tanto e concentrarmos as nossas energias na nossa filha que bem precisa.

-Se é essa a vossa decisão… - disse retirando-se.

-Encosta ao meu ombro Dixie. - fiz o que mandou. -Quero que saibas que foste muito forte lá dentro. Nunca tinha visto ninguém ser tão forte em toda a minha vida. Acho que se fosse eu não aguentava.

Tinha-me chegado para o seu peito, e ele falava com o nariz enterrado no meu cabelo. Sentia falta de estar assim com ele, só a ouvir o bater do seu coração e ele a dar-me pequenos beijos na cabeça. Mas como tudo o que é bom tem de acabar, a Hayley entrou no quarto aos saltinhos e fez uma festa enorme quando viu o pai. Eram muito chegados, e eu sentia-me muito feliz e muito triste ao mesmo tempo, porque via o amor entre pai e filha, mas sentia que ela se esquecia de mim na presença dele. Nas horas que se seguiram recebi muitas visitas e estava a ficar verdadeiramente cansada. O meu pai ainda mais confiante da maldição, o Tom e a Avery que vinham todos contentes para conhecer a sobrinha, o Trevor ficou igual à D. Simone quando lhe contámos e o Dean que me veio dizer que a Layla estava grávida de novo. Depois de a minha filha morrer a última coisa que queria era falar de bebés e gravidezes. Felizmente a hora da visita acabou e eu fiquei sozinha com a promessa de mais visitas no dia seguinte. Esperei até estarem fora do meu alcance visual para começar a derramar todas as lágrimas que estavam oprimidas.

-Dixie… Hey, eu estou aqui - disse puxando-me novamente para o seu peito. Não tinha notado a presença dele. -Eu sei que dói. Vamos tratar de fazer o luto como deve ser e tratar da nossa menina. A Brielle está viva dentro de nós. Temos de fazer os possíveis para ser felizes Dixie. Por elas.

Chorei ainda durante algum tempo, mas com o passar dos dias e dos meses a dor foi acalmando. Vendemos a casa que comprámos quando eu estava grávida.

Peço desculpa pela ausência e pelo capítulo minúsculo, mas o próximo é maior.
Espero que não me tenham abandonado :s 

segunda-feira, maio 16

11º Capítulo


-Anemia de Diamond-Blackfan. - sentia um baque no coração casa vez que pronunciava aquilo.

-Eu disse que havia uma maldição. Não quiseste acreditar. Nem…

-Pai já chega. Não queres apoiar-nos não apoies, mas não dificultes as coisas.

E era assim que os dias se passavam. Passaram umas quantas semanas desde o diagnóstico. O médico veio falar comigo e com o Bill e disse-nos que havia uma maneira de ela ficar curada. Deixava de precisar da transfusão de sangue e podia ter uma vida normal.

-O que achas do tratamento? - perguntou-me.

-Ainda estás muito chateado comigo?

-Dixie…Não. Tu és a mãe da minha filha, vou sempre gostar de ti, de uma maneira ou de outra.

-Então vou ter de te pedir um favor. Eu quero tudo o que possa salvar a Hayley. Mesmo tendo noção que não queres nada comigo, que ela pode rejeitar a medula, que o bebé pode morrer. Nada me é tão precioso quanto ela. - menti, ele era-me muito também. -Eu quero tentar.

-Eu também quero. Mas vai ser difícil acertar à primeira.

-Nunca ouviste falar de fertilização in vitro? Não te vou pedir que faças nada comigo “embora eu queira muito”. Vamos recorrer a fertilização, escolher um embrião compatível e vou implantá-lo.

-Vais implantá-lo onde? - olhou para mim com os olhos muito abertos.

-Bill, no útero, onde achas que os bebés se desenvolvem? Mas pronto. Concordas?

-Se isso salvar a nossa menina… Eu faço tudo. - disse vindo abraçar-me.

 Era tão bom. O calor do corpo dele no meu, a sua respiração suave na minha nuca. Ia ter mais um filho com ele, e isso chegava-me por enquanto.

Nas semanas seguintes corremos do Havai para Nova Iorque e vice-versa. Dos oito óvulos que retiraram de mim e conseguiram inseminar, um era compatível com a Hayley. Com todos os testes que fizeram aos cromossomas do bebé percebemos que era outra menina. Ele andava todo animado porque a Hayley melhorou e podemos voltar para a Alemanha e babava constantemente para a minha barriga nada saliente. Comprámos uma casa onde vivíamos com a Hayley, que tinha o seu quartinho de princesa novamente e estávamos a decorar o da outra menina, que decidimos chamar Brielle. Era tão bom andar com ele a preparar a chegada da nossa filha mais nova. Os nossos pais e gémeos andavam também igualmente felizes pois no meio de toda a desgraça perceberam que ia haver um novo membro na família. O Tom arranjou namorada, uma tal de Avery Sommers, mas estava mais tempo com a sobrinha do que com ela.      

***

Chegou finalmente o dia há muito esperado. A nossa Brielle ia nascer e iam recolher as células estaminais do seu cordão umbilical para a Hayley. Fui transportada para a sala de partos e dei o meu máximo naquelas exaustantes 13 horas. Ela estava a vir numa posição nada favorável, e era muito difícil fazê-la sair. O Bill esteve o tempo todo ao meu lado, a dizer que estava quase, que a nossa menina vinha ai. Quando estava cansada e queria desistir lembrava-me da carinha da Hayley naquela cama de hospital e continuava. Finalmente a Brielle nasceu. Levaram-na de imediato. Só a vi de relance, mas era tão bonita ou mais ainda que a Hayley. A placenta demorou um pouquinho a sair e recolheram logo aquele sangue rico em preciosas células estaminais. Não precisei de pontos neste parto e depois de limparem tudo fui posta no quarto. Estávamos os dois nervosos e com uma carga emocional muito grande. Um médico entrou sem bater à porta.

-Sr. Kaulitz, Sra. Carter, lamentamos mas a vossa filha não resistiu.

Olhei para o Bill e só pensava que agora que tudo tinha chegado ao fim não podia ter perdido a minha filha. Tinha feito tudo por ela, gerado outra vida, e agora ela morria assim?

Peço desculpa, mas o tempo não chega mesmo.
Não tenho andado a ler nem a escrever, mas quando tiver um tempinho vou fazer isso tudo.
Este é da Lii's, a minha nova leitora! 

sexta-feira, maio 6

10º Capítulo


 Saber que a podia ter ajudado mais cedo e não o fiz porque não me apercebi que podia ser tão grave. A minha menina tinha leucemia e não havia nada que eu pudesse fazer para a ajudar. Diziam que ela não ia precisar de ficar internada para já, mas que tinha de ir lá com ela de vez em quando para ver como estava e que iam ver se eu era compatível com ela para poder receber a minha medula. Foi nesta altura que decidi que era melhor contar tudo ao Bill. Liguei ao meu agente e pedi que entrasse em contacto com o dele para ver se conseguia convencê-lo a encontrar-se comigo.

Cerca de uma semana depois chegou a resposta que Bill estava de férias e não poderia encontrar-se comigo, mas parece que a sorte desta vez esteve do meu lado e nesse mesmo dia encontrei-o na praia enquanto andava a passear com a Hayley. Ficou feliz por saber que a Hayley era filha dele mas quando lhe contei da doença o sorriso que eu amava desapareceu. Expliquei-lhe tudo o que sabia e decidimos que ela ia ser feliz no Havai enquanto conseguisse. Pedimos ao meu pai e à mãe dele para virem ter connosco. Mais uma vez o meu pai não se calava com a porcaria da maldição e eu continuava a não acreditar nela. Desde o primeiro dia que a minha menina andava toda feliz com a ideia de finalmente ter alguém a quem chamar pai.

-Mamã o papá pode vi connosco ao quato? Quelo mosta o desenho que fiz pa ele. - disse saltitando alegremente nos braços do Bill.

-Claro que sim amor. Vais ver o jeito que a tua filha tem para o desenho Bill.

-Se for como o pai coitadinha! Há-de sair grande coisa. - disse beijando ternamente a cabeça da menina e sorrindo.

Fomos para o quarto e ficámos ambos babados com a nossa pequena. O desenho não estava perfeito, mas tinha o pai, a mãe e ela. Fui-me sentar na cama de rede enquanto eles ficaram lá dentro a fazer alguma coisa. Não podia dizer-lhe que o amava. Escondi a Hayley durante imenso tempo, não tenho direito de sequer pensar coisas sobre ele. Nem sei bem como é que acreditou em mim sem pedir um teste de paternidade. Ouvi-o gritar e corri para o quarto. A Hayley tinha acabado de cair inanimada no chão.

***

-Lamento que tenhamos errado no diagnóstico. Todos os sintomas indicavam leucemia.

-Pois mas agora ela está pior. O senhor tem filhos por acaso? Sabe o que custa vê-los deitados numa cama sem energia e não poder fazer nada? - disse ele já irritado.

-Anda Bill, vamos para junto dela. - seguiu-me quase de imediato. -Estou farta disto. Já perdi a minha mãe por causa de um erro destes tipos e agora ainda me fazem isto à miúda.

Abraçou-me contra o peito e passava a sua grande mão em círculos para me tentar acalmar. Ponho-me a pensar o que vai ela dizer quando acordar. O que dirá ela de nós quando tivermos de a picar cinco noites por semana? O que dirá ela quando tiver de ir de duas em duas semanas ao hospital fazer uma transfusão de sangue?

-Como se chama mesmo o que ela tem? - assustei-me com a voz do meu pai. Não tinha dado pela sua presença.
Obrigada por não me abandonarem.
O Bill não podia estar quietinho com a barba feita!? Vou demorar a esquecer isso...