Mais um dia horrível na soalheira
Flórida. Desde que tinha começado a época das tempestades que era um horror
viver neste estado. 20 dias, 17 tempestades. Tinha acabado de chegar à loja de
tatuagens onde trabalhava quando soou o aviso de tornado. Perfeito, pensei, se os
clientes que tinham marcação não aparecem vou ser empalada. Comecei a
limpar o soalho de madeira, a desinfetar agulhas, colocar as caixas com as
luvas esterilizadas nas zonas de trabalho dos meus colegas quando chegou o
patrão.
-Bom dia Marie.
-Bom dia patrão. – sorri
amistosamente para ele como fazia sempre, mas desta vez algo no seu olhar
mudou. –Aí há gato Timmy! Conta já o que aconteceu ou quando os rapazes
chegarem vai ser pior…
-Bem, o que aconteceu foi que,
como sabes, o senhorio já me anda a chatear há algum tempo, então eu decidi que
vou mudar para outro sítio. – ia a falar mas… -E antes que comeces a dizer que
o senhorio não é razão suficiente para mudar, conta também com as duas vezes
que tivemos de reconstruir a loja por causa dos tornados e toma em atenção com
o de hoje, porque pode ser devastador.
-Tudo bem, durante quanto tempo
vou ter emprego?
-Não minha querida, tu vens
também! Somos uma equipa de luxo, achas que vou perder os meus sócios e grandes
amigos assim? Até parece que não me conheces ao tempo que conheces.
A conversa estava bastante
animada mas entrou a Jo com os seus cabelos vermelhos curtos num desalinho,
como já era hábito, os piercings nas covinhas das costas e o mau humor matinal
tão característico. Faltavam 10 minutos para abrirmos ao público quando
chegaram os primos Mike, Robert e Kevin. A equipa estava completa para a
notícia de última hora. Após todo o aparato causado pelas novidades abrimos, e
logo chegaram as duas marcações das 9:30h. A rapariga que me calhou queria
tatuar os nomes dos filhos nas omoplatas, mas acabou por querer um retrato
deles, e tive que trocar de cliente com o Mike. Acabou por ser melhor, fiquei
com um belo homem, que queria uma guitarra tatuada no antebraço.
De tarde o tornado tornou
impossível a movimentação na cidade, então optámos por ligar aos clientes da
próxima semana a dizer que a loja ia mudar de localização e arrumar tudo para
podermos partir no fim-de-semana. Tínhamos acabado de empacotar os materiais e
as tintas quando o Tim ligou a televisão. O tornado tinha arrasado com a cidade
durante a tarde e as tempestades estavam piores. Decidimos levar tudo para os
carros e ir para casa arrumar as nossas coisas para nos mudarmos daí a dois
dias. Comecei a procurar as roupas mais importantes, arrumei-as na mala preta,
juntamente com os blocos de esboços, os desenhos que tinha feito para novas
tatuagens, os estojos com os materiais mais caros que utilizava para desenhar e
as minhas poupanças para recomeçar a vida noutro lugar, que ainda nem sabia
qual ia ser. Podia parecer estranho ir assim para outro sítio só porque o meu
patrão me dizia que ia, mas ele sempre fora meu amigo, mesmo antes de me dar
emprego. Tinha sido ele a salvar-me de todas as vezes que me tinha metido em
alhadas. Era o mais perto que tinha de uma família, e se ele me queria
continuar a apoiar, então eu ia com ele, nem que fosse para a Sibéria.