sexta-feira, abril 15

Hoffnung-1ª Parte


Já passaram mais de oito meses. Oito meses que perdi a felicidade, oito meses que não sei porque respiro. Mas ainda hoje me faz confusão o peso que uma noite estúpida pode ter na vida de uma pessoa. Perdi as pessoas mais importantes que tinha no mundo, o meu irmão gémeo e a minha namorada. Tudo por causa da teimosia desmedida do Tom. Não que ele tenha morrido, simplesmente não consegue olhar para a minha cara desde o acidente. Não consegue olhar e ver a porcaria que fez. Eu é que devia estar zangado com ele, eu é que não devia sequer lembrar-me que ele existe, mas sou eu que tento a todo o custo aproximar-me dele. De vez em quando ligo-lhe, mas em vão, ele não se digna a responder. Cada vez que me lembro do dia do acidente, o momento de felicidade em que estava e as últimas palavras da Hazel tenho mais a certeza que é aqui que preciso de estar. 
Este quarto de hospital tem sido a minha casa desde esse dia maldito. Pensar que tive a vida toda para aproveitar a minha menina e agora, ao vê-la nesta cama toda cheia de fios e máquinas que fazem o que o seu corpo frágil não consegue, é que me lembro de tudo. A história da minha vida é muito fácil de contar, gira sempre em torno das mesmas pessoas. As nossas mães eram amigas de infância, e ficaram ainda mais unidas quando estavam grávidas. Estavam as duas de gémeos, a minha mãe com dois meninos e a mãe da Hazel com duas meninas. Passavam os dias juntas, a falar, a beber chá, a tricotar botinhas minúsculas. E no dia 1 de Setembro de 1989 em que deste lado da cidade nasciam Tom e Bill Kaulitz do outro lado nasciam ao mesmo tempo duas meninas. Karen e Hazel Klein. As nossas mães riram quando souberam que tínhamos nascido exactamente ao mesmo tempo. Enquanto o Tom nascia, a Karen nascia, e dez minutos depois eu e a Hazel nascemos também. Nós passámos juntos todos os dias das nossas vidas. As nossas mães babavam ao ver que os seus pequenos se davam tão bem ou melhor que elas. Apesar de amar o meu irmão incondicionalmente, ao longo dos anos fui desenvolvendo uma admiração especial pela Hazel. Vivíamos na mesma casa. Desde que me lembro de existir que ficava a olhar para os seus cabelos cor de avelã quando ela andava no baloiço, a fixar os seus olhos verdes quando falava comigo e a vê-la dormir tão profundamente a meio da tarde quando queria brincar com ela. O Tom sempre gozou com o facto de ela dormir tanto. Eu sabia que ela gostava de dormir, com a vida que tinha. Era pequena, mas mesmo assim sofria. Antes da mãe dela saber que estava grávida o pai delas saiu de casa com o Matt. O Matt é o irmão mais velho das meninas. A Hazel só nasceu no mesmo dia que eu por causa de um problema que lhe detectaram. Ela e a Karen nasceram bem e bastante saudáveis, só que a Hazel tinha o cordão umbilical enrolado no pescoço e tinham medo que por falta de espaço ela sufocasse. Lembro-me tão bem de a ver chegar da escola com apenas três aninhos e um sorriso radiante. 

-Biwe, oia, eu pintei uma boboeta.

Um sorriso idiota formou-se na minha cara ao lembrar a maneira atabalhoada como falava e o seu desenho da borboleta. Era a coisa mais bonita que já tinha visto. Ela desde cedo que percebeu que me tinha do seu lado. A primeira palavra que disse foi o meu nome. Biwe. Mais ninguém se lembrava da maneira engraçada dela falar. Mais ninguém se lembrava da primeira vez que tentou andar de bicicleta e caiu, da primeira vez que lhe caiu um dente, da primeira vez que tinha tido um Excelente numa prova. A única primeira vez de alguma coisa que aconteceu com a Hazel que alguém se lembrava foi a primeira vez que lhe bateram na escola. Essa também eu me lembrava. Chegou a casa num dia de Outono completamente ensanguentada. Os joelhos esfolados, o narizinho a sangrar e na mão o sapatinho que não tinha conseguido calçar.
1ª parte da minha 1ª fic.
Espero que gostem
Obrigada BOPS e Luísa Fastasminha por virem logo aqui (:

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